Nos dias bons dizia-te a tudo que sim!...
- Que sim aos beijos; aos encostos; aos abraços; aos "amassos"... e ao sexo.
Nos dias maus dizia-te, igualmente, a tudo que sim - ao bom e ao mau.
E desta forma estranha dei comigo a ser um estorvo de mim mesma:
- Não tinha critério nas minhas opções.
Deixei-me de ser submissa.
- Deixei-te entregue aos teus caprichos. Deixei-me de ti.
Hoje, reconstruída e de alma nova, gosto muito de mim outra vez.
Os dias são dias criteriosos porque vividos com critério.
Julgava-se acima de sentimentos de posse!
Julgava-se imune a dependências amorosas, afectivas e sexuais.
Julgava-se mas não foi assim que aconteceu.
E um dia passou a ter todos os seus dias infernizados por pensamentos obsessivos que a não deixavam em paz.
Pensava a toda a hora nele:
- Na sua voz serena. No seu toque de pele aveludada. Na sua calma e determinação ao fazer sexo e a dar-lhe prazer.
E foi assim, de dia em dia, e, dias a fio, que se entregou ao amor e aos sentimentos do amor.
E foi assim que passou a desejar fazer amor com o seu amor.
E foi assim que passou a ter, permanentemente, desejos de amor e sexo.
Julgava-se imune e acima dos sentimentos duradouros, mas não o era.
Nada é como parece.
Que fazes aí sentado? Que fazes tu que nem olhas para mim, de tão embrenhado, que te apresentas, nos teus pensamentos?!...
Gostava muito de te adivinhar esses pensamentos!
- Talvez que sejam pensamentos eróticos! Talvez sobre sexo e muito esbanjamento de corpos, sem sexo...
Mas eu não gosto de te provocar com os meus supostos desejos.
Digo supostos porque sobre sexo estamos conversados:
- Falamos mais dele do que do prazer que dele tiramos.
Simplesmente falamos daquilo que não temos.
Que fazes aí sentado, absorto em contemplações que não diviso?
Pensarás em nós? Em nós a fazermos as coisas que ambos deixámos para trás?
Pensarás em sexo?
Pensarás?
Cansada de tudo e sem motivações de maior, na sua agenda dos divertimentos, foi-se dali, aonde as pessoas lhe pareciam todas felizes.
- Estaria a ficar invejosa da felicidade, que outros aparentavam?
Pensou para consigo e respondeu que não.
O que estava era farta de não encontrar alguém que a preenchesse em alguns itens fundamentais.
- Gostava de rir e não tinha motivo; gostava de sexo e não tinha o homem que desejava para ter sexo; gostava de namorar e não tinha namorado.
Estava nestas cogitações quando, ao longe, e, vindo ao seu encontro o viu!
- Viu um daqueles homens que parecem ter tudo o que uma mulher como ela precisava para ser completa!
Era giro; era desenvolto; era sexy; era próprio para lhe dar sexo - pensou secretamente para si e com os deuses - e ergueu a cabeça olhando-o fixamente... imaginando "coisas".
Quando se cruzaram ele nem a viu!
Ficou despeitada e ligou, mesmo ali, para aquele namorado antigo a quem "despedira" por inúmeros motivos.
- Ligou, mas ele não atendeu.
Estava cansada de tudo. Estava desesperada de tanta frustração.
Estava mas não seria por muito tempo:
- Decidiu que mudaria os seus critérios de escolha.
Antes um homem banal que homem nenhum.
Ficou mais serena e sem alegrias, para já.
Entreabriu a janela do seu escritório, acendeu um cigarro, e, ficou-se ali, puxando fumaças e pensando na Vida.
Para não variar pensou naquilo que, quase sempre, pensava:
- Pensou nas suas paixões, todas - antigas, recentes, e, presentes!
Era, foi e será, uma mulher de paixões.
Não se arrependia de nada, do tudo, o que viveu por paixão.
- Os sobressaltos; os arrebatamentos; o prazer; o desejo; o sexo; a desilusão do sexo; as controversas etapas dos vários fins das várias paixões.
Concluía sempre o mesmo:
- Uma mulher de paixões tem muito que contar.
É isso a memória. A história das nossas paixões.
O cigarro acabou-se e a evasão com ele.
Voltou ao trabalho.
Há horas que estava ali - parada, de pé, ao vento e à chuva.
- Como sempre não chegáste a horas!
E foi num relance, de troca de olhares furtuitos, que o conheci.
- Conheci aquele que me seduziu, na paragem de autocarro, enquanto esperava que viesses...
E, não me leves a mal:
- Fui pouco renitente em lhe dizer não.
Talvez por um pouco de raiva; de desdém; de cansaço fui-me embora com ele.
E aconteceu tudo - até o que julgas!
- Sim fizemos sexo e não só.
Não sinto nem uma pinga de remorso.
O sexo, seja ele por que motivo seja, se for bom, vale sempre a pena.
Não premeditei nada! Mas saíu-me a sorte grande.
Vem, então, logo que possas.
- Vem, mas conta-me tudo.
Quero saber todas as tuas "voltas" e "voltinhas" enquanto andaste à solta, sem mim.
Sei o que sei: e não sei se é verdade o que imagino.
E a minha imaginação é fértil...
Imagino que me traíste em todos os hotéis aonde pernoitaste.
Imagino que fizeste sexo com todas as galdérias que encontraste.
Imagino-te a fazeres sexo com elas e a mentires-lhes, como me mentes a mim.
E porque eu imagino coisas que tu negas eu te peço que venhas.
- Vem mas fala-me a verdade.
Será isso possível vindo de ti?
Já muitos dos meus dias os vivi a pensar em ti.
- Pensar e pouco mais.
Em todas essas horas em que te pensei os meus sentimentos foram diversos.
Nuns amei-te; noutros desejei-te; noutros odiei-te... e até "dormi" contigo.
Foi num desses dias, vividos de pensamentos, que eu te senti abraçares-me toda; beijares-me toda e me deixei ir no embalo do teu beijo.
Foi dessa vez que o sexo me pareceu bem real; bem compensador.
Quando te tinha deitado ao meu lado, nem o sexo prestava.
Gosto mais de ti na ausência.
Gosto dos meus pensamentos sobre ti,
Já vivo bem só - e com esses pensamentos.
Vivo bem.
Pedes-me sacrifícios - eu dou-te amor.
Pedes-me sexo - eu dou-te prazer.
Pedes-me trabalho, e, fazemos um filho.
E a nossa Vida é feita de Paz.
- E feita de Amor e sexo.
E já assegurámos a nossa continuidade para o Futuro.
Tem olhos castanhos o nosso Futuro.
O Futuro é da cor da Terra que nos acolhe.
Mesmo assim não quero!
- Não te quero.
Podes ser doce; seres meigo; seres simpático e sedutor... Podes.
Mas eu não quero deitar-me contigo; fazer amor contigo; fazer sexo contigo; acordar depois ao teu lado.
Esse tempo acabou.
Esse tempo de "bates-me" de dia e amas-me à noite, já lá vai.
Foi o que conseguiste de mim com as tuas iras desmedidas e os teus arrependimentos temporários.
Podes dizer-me que me adoras e me desejas: que queres desalmadamente ter sexo comigo.
Mas eu não quero.
Gostava de te falar!
- Ligava-te; dizia-te com a minha voz, sussurrante, que te desejo!
Tu ouvias-me e ao fim de uma longa pausa dirias:
- Sim! Podemos ver-nos hoje. Podemos jantar e fazer sexo.
Eu desligava e ficava em grande e despropositada excitação.
Pensaria com efabulação doentia, nessas nossas imemoriais noites de sexo.
Pensaria em ti com muita veemência.
Pensaria no que me desse retorno de nós. Pensaria e pensaria...
PS: Sei que não te ligarei - jamais.
És aquele por quem, mais logo, esperarei.
Vesti-me para ti.
Perfumei-me para ti.
Enfeitei-me para ti...
Mais lá para o fim do dia espero-te no sítio do costume.
Estarei ansiosa mas aparentemente calma.
Depois, tu chegas-te a mim, despes-me; eu atiro-me nos teus braços e abraços e esqueço tudo.
Nestes dias de sedução e sexo; de sexo e sedução; de sexo e mais sexo, eu pergunto-me sempre:
- Será que ele viu a roupa que usei? O perfume que coloquei? Os adornos com que me produzi?
E concluo pelo não. Só me viste a mim.
Ámen!
. Contos (8) - Sem alegrias...
. Contos (4) - Mulher de pa...
. VIAGEM A PARIS E (DE GRAÇ...
. Diário de Rita... o beijo...