Uma voz que "sofre" ao cantar as belas palavras que o poeta lhe entregou...
Uma viola e uma guitarra que embalam a voz sofrida.
É isto a alma do fado.
É isto a paixão por um lado da vida.
- A vida dos noctívagos .
O fado acontece pela noite adentro. Acontece à hora dos sussurros.
Os sentimentos extremos roubam-nos a lucidez!
- A paixão é um deles.
Um dia temos tudo; no outro somos indigentes afectivos. Uns desgraçados!
E é por estas coisas que eu gosto deste fado.
Camané canta-o como um sofredor.
Canta-o com a voz da experiência e do saber, no corpo, o que a paixão desmedida causa.
- Causa a aridez da Alma.
Depois de uma paixão que finda, só nos resta, por um tempo, o território árido do deserto.
É assim a Vida.
Sabia que gostava de fado.
- A sua vida toda pensara que não...
Mas era só aquela ideia feita, que não era, sua ideia intrínseca.
Tal como em muitas outras coisas por que tinha paixão, sentia verdadeira paixão pelo Fado! Sentia.
- Tudo o que envolve Alma e Sentimento tem para ela paixão associada.
Nunca desistiu de ouvir fado, ainda que às escondidas - não fossem as amigas denegrir os seus gostos, fora do género musical do grupo.
E, tal como com toda a coisa que é objecto da sua paixão, naquele dia comprou o seu primeiro CD de fado:
- Amália era a voz desse CD.
Seu nome era mágico; sua voz era mágica; sua figura arrebatadora.
Por Amália tem paixão ao Fado.
Tem paixão e gostos variados, por diversos géneros de fado.
Há cinco anos que não sabia fazer mais nada!
- Levantava-se e deitava-se, sempre e só, com um único objectivo: viver para viver, a sua paixão absoluta, julgava ela, por aquele homem a quem dava o seu tempo, todo...
Começava a questionar-se sobre o fim e utilidade de tal paixão!
E desta forma simples decidiu que já estava apaixonada, há tempo demasiado, por alguém a quem via, já, alguns defeitos.
Concluiu que seria muito mais útil se se dedicasse a coisas mais convincentes.
Nesse dia telefonou a informar-se sobre uma pós-graduação.
Queria ter a sua cabeça ocupada. Queria muita coisa que a paixão lhe não dera
Reparou que já raciocinava como se a sua paixão tivesse acabado!...
E, acabara mesmo.
Bastou-lhe parar para se pensar e viu o fim da sua paixão.
Os restos da sua paixão.
Só restos de paixão.
Lá porque não nos falamos há algum tempo, não quer isso dizer que te esqueci.
- Quero que saibas que me fazes imensa falta.
- Quero que sintas como me és fundamental!
E tu?
Como geres a nossa distância?
Tens em ti algum compartimento vazio pelo meu silêncio?
Deixo-te este beijo em forma de pergunta:
- Lembras-te ao menos de mim?
Se quiseres podes voltar.
Podes até voltar para mim.
A paixão tem destas coisas: tira-nos o orgulho.
Havia dias em que me fazias tão, tão, feliz que até me doía a cabeça...
E eu dizia-to.
Dizia-te que eras o meu amor; que eras o meu amado; que só te queria a ti; que eras o "meu" homem.
E tu, vaidoso, como eras, ficavas todo empolgado e davas-me o que de melhor tinhas para me dares:
- Davas-me muitos beijos; davas-me a mão; passavas-me a mão; e levavas-me ao céu!
E no céu contigo eu era uma mulher a sério!
Dava-te tudo também.
Dava-te os meus beijos; os afagos; o meu corpo; e sexo...
Foram tempos de muita paixão e sexo!
Foram os "nossos" tempos de vertigem. A vertigem da paixão sem limites.
Acontece-me, de vez - muito - em quando, recordar-te por coisas boas!
Tu sabes muito bem que a nossa paixão terminou mal...
Mas quando ainda hoje te lembro, pelo lado do bem, eu sinto que podíamos ter sido, mais tempo, amantes.
Lembro-me de que, enquanto não te meteste na minha proximidade; impondo as tuas regras e anarquias, eu gostava de ti e corria para os teus braços sem fantasmas nem hesitações!
Gostava das tuas longas conversas sobre tudo e nada, mas que contigo tinham sentido. Gostava das tuas mãos de poeta. Gostava das tuas carícias com mãos de poeta. Gostava dos teus beijos todos, e em toda a parte. Gostava do sexo que sabias fazer comigo. Gostava muito desse sexo!
Como vês acho que tínhamos muito por onde nos mantermos apaixonados!
Mas a tua convivência na minha intimidade estragou tudo:
- Estragou a conversa; estragou as tuas carícias; estragou os beijos; azedou o sexo.
Tudo poderia ter sido diferente, mas acabou como acabou - mal. Tudo muito mal.
- A paixão cedeu o lugar à indiferença e à tristeza.
Quase ao esquecimento.
De mão dada caminhávamos, em silêncio, pelo areal da praia, ao pôr-do-sol.
Era Verão - dentro e fora de nós.
O silêncio que partilhávamos era o consolo que as nossas almas recebiam, com sofreguidão, pelas horas e horas, de prazer e prazeres, a rodos, já vividos...
A Paixão é assim mesmo:
- Esgota-nos mas faz-nos sentir de bem com a Paz e o Silêncio.
Neste fim de tarde, o Silêncio que comungámos, deu-nos o alento necessário para a noite que se adivinhava intensa.
- As nossas noites são intensas...
Mas ambos sabemos que nada é eterno.
No princípio da nossa paixão, tórrida, entre muitas outras coisas gratificantes, nós fazíamos sexo - muito e gratificante - também.
E assim decorriam os nossos dias; as nossas semanas; os nossos meses e meses...
Mas comecei , ao fim de alguns largos tempos, a sentir, na hora de irmos deitar-nos, uma enorme dor de cabeça - real.
- E, por vezes to disse...
Tu nem água vai!
Um dia disseste-me que, a ti, nunca te doía a cabeça, na hora de te deitares; que por mais cansado, que estivesses, gostavas de sexo antes de adormeceres!
Vi, nesse momento desencantado, a tua falta de consideração e preocupação por mim.
Vi que não eras, afinal, aquele por quem me queria apaixonar para a vida toda.
Passei, a partir daí, a dizer-te que tinha dores de cabeça - quando as tinha e também quando não as tinha.
E assim terminámos a nossa "paixão"...
- Que, para ti se resumia a sexo; que, para mim se resumia a não te querer mais.
Quando nos separámos, de facto, não mais tive essas malditas dores de cabeça, reais.
E nem das outras tive também. Tu eras a "minha" dor de cabeça.
Cansei-me de te esperar. Vem, se te apetecer...
- Já não quero nada, de nada, por hoje, contigo.
Vesti-me de paixão para te receber. Na demora da espera a paixão morreu. Acabou.
- O desejo de que me abraçasses foi preenchido de raiva.
Para ti, por agora, estou out.
- Nem beijos; nem encostos; nem sexo.
Muito menos isso - sexo. Nada de proximidades.
Quando fazes de mim, objecto de segunda escolha, ficas posto de parte.
Podes vir. Mas eu já não moro aqui. Estou em férias e fora da relação que tínhamos.
Cansei-me de que me iludas em esperas inúteis.
Estou out. Mesmo out.
A nossa relação é uma fogueira que não queremos deixar que se apague.
- Nunca!
É nessa fogueira, sempre acesa, que queremos colocar a nossa paixão e vida conjunta.
- Será alimentada de tudo que é bom e de tudo o que for menos bom... E até com o mau, se o houver.
Nela poremos, para que não se apague, "carradas" de beijos; pilhas de sinceridade; de lealdade; de trabalho; muito e muito sexo; filhos; alguns sacrifícios; doses avantajadas de amor.
Será uma fogueira sempre acesa. Acesa com a "lenha" que a nossa vida gerar. Não se apagará jamais.
Somos e seremos loucos um pelo outro.
Por todos os dias da nossa vida.
Logo, lá mais pela tardinha, telefono-te.
Dir-te-ei que te quero, comigo, esta noite.
Dir-me-ás que sim, que também quererás estar ao pé de mim - a noite toda e os dias seguintes e toda a tua vida!
E então, eu, embevecida e crédula em ti, voo ao teu encontro; abraço-te forte; beijo-te com paixão.
E vamo-nos para a "terra prometida". Para o lugar aonde tudo se passa...
- Daremos mais beijos; faremos sexo tórrido; sexo caliente; sexo abrasador!
Arderemos ambos, na fogueira da nossa atracção!
Àmanhã, tal como das outras vezes, teremos um dia normal.
- Como se essa paixão erótica, que nos acalentou, a noite inteira, se tenha evaporado por magia... e nada de nada, dela, tenha deixado de si, atrás.
É sempre assim, connosco. Consumimo-nos, inteiros, a cada noite de encontro.
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