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Rita está em casa, é manhã, é sábado, começa a Primavera, e, hoje, Rita acordou triste. Não que Rita seja uma pessoa neurótica ou depressiva; que invente problemas e tristezas! Rita não gosta de sofrer, sem motivo. Rita conhece bem de perto, o sofrimento. Respeita-o e tenta não se lhe vergar. Enfrenta-o!
Hoje Rita está triste porque se lembrou de seu Pai! Lembrou-se dele como ele era, exactamente, quando os dois passeavam de mão dada, e de quando Rita o considerava o «seu» herói,...há muitos anos, lá para trás...
- Era um pai amoroso, jovem, e que amava Rita, acima de tudo; e Rita sabia-o porque apreciava e conhecia bem, as coisas, quase, impossíveis, que ele fazia por ela! Para a sentir feliz e sem faltas de nada.
O pai de Rita era um pai sempre presente. A vida da sua filha era o seu bem superior. Era o seu motivo de alento, para enfrentar mais um dia, de cada vez; muito doente e em sofrimento atroz.
- Mas não se lamentava, nem se fazia de coitadinho, e nem se vitimizava, perante Rita! Era sempre forte e fazia-a sentir-se segura e protegida, por ele. Rita sabia-o doente mas também o achava eterno e indestrutível...
E num dia triste de Primavera, tudo isso terminou e caiu por terra! Tudo se acabou. Rita era uma menina, e, seu pai, um jovem de quarenta e um anos...
Rita hoje está triste porque a recordação de seu pai, traz-lhe uma enorme saudade dele; e uma imensa tristeza por ele não poder fazer-lhe aqueles mimos, que Rita tanto gostava, e de que sente tanto a falta e o desejo.
- As primeiras cerejas, da cerejeira do jardim, eram colhidas por ele; e levava-as, numa caixa, enorme e enfeitada, ao colégio que Rita frequentava, para que Rita as partilhasse com todas as colegas. E isso era um gesto que tinha duas faces, para Rita:
- Seu pai sabia quanto Rita adorava as cerejas; seu pai fazia-a sentir-se importante pois trazia-lhe, sem que lhe pedisse, aquilo que atentamente colhera para ela...e para as suas colegas de colégio e madres...e nesse dia Rita sentia-se muito especial. Era um dia de uma beleza imensa na vida simples que Rita vivia então.
Há perdas irreparáveis e a perda de um Pai é isso:
- Nunca mais recuperarmos a confiança, total, no mundo. Perdemos o nosso suporte; a nossa segurança maior. Ficamos vulneráveis e sem rede.
Rita hoje está triste e tem motivo! Ontem, dia do pai, como seria normal, não pôde dar um beijo, de Parabéns, na face bonita de seu Pai. E isso é muito traumático. É tão triste, tão triste, que põe lágrimas nos olhos de Rita, quase à beira de caírem...pela sua face. Mas Rita aguenta! Rita sabe o que é o sofrimento. Tenta coabitar com ele há anos... e consegue...
E também, talvez, por isso, hoje não sentirá a beleza da chegada da Primavera... Lá mais para diante... o fará!
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