- E tu? Que fazes tu para me agradares? Será que pensas nisso?...
Ia pela rua afora e deu-se conta que falava sozinha!
- Aliás, ultimamente, acontecia-lhe muito.
Quanto mais absorta nos seus problemas, menos os conversava, fosse com quem fosse.
Mas desta forma intimista não resolveria coisa nenhuma!
Deu-se então conta de que só tinha problemas, que eram só seus:
- Eram só seus porque nunca os expusera a ninguém; nunca pedira ajuda para os resolver; nunca interpelara sobre eles o "objecto" fulcral do seu estado problemático.
Decidiu não se lamentar.
Continuaria a falar consigo sobre as suas questões existenciais.
Bem lá no fundo sabia que, quase toda a gente, está indisponível para ouvir seja quem for!
Sabia que os outros querem é ser ouvidos.
As pessoas têm problemas e pensamentos. As pessoas são diversas a tratar ambas as coisas.
Já não gostava de conversar! Já não gostava de quase nada...
Os dias, vivia-os agora, envolta num tédio brutal!
- Era brutal o seu acordar; era brutal o seu não viver; era brutal o seu dormir.
Envolta num "nevoeiro" denso que lhe toldava as ideias, mais lhe parecia que vivia numa bebedeira constante de vinho rasca a copo.
Eram enjoos; eram vómitos; eram diarreias que lhe não davam paz nem vontade para mais nada.
A sua vida era uma coisa que se arrastava entre a náusea e o vomito.
A sua vida era brutalmente inexistente.
Uma vida sem vida alguma.
Cansada de tudo e sem motivações de maior, na sua agenda dos divertimentos, foi-se dali, aonde as pessoas lhe pareciam todas felizes.
- Estaria a ficar invejosa da felicidade, que outros aparentavam?
Pensou para consigo e respondeu que não.
O que estava era farta de não encontrar alguém que a preenchesse em alguns itens fundamentais.
- Gostava de rir e não tinha motivo; gostava de sexo e não tinha o homem que desejava para ter sexo; gostava de namorar e não tinha namorado.
Estava nestas cogitações quando, ao longe, e, vindo ao seu encontro o viu!
- Viu um daqueles homens que parecem ter tudo o que uma mulher como ela precisava para ser completa!
Era giro; era desenvolto; era sexy; era próprio para lhe dar sexo - pensou secretamente para si e com os deuses - e ergueu a cabeça olhando-o fixamente... imaginando "coisas".
Quando se cruzaram ele nem a viu!
Ficou despeitada e ligou, mesmo ali, para aquele namorado antigo a quem "despedira" por inúmeros motivos.
- Ligou, mas ele não atendeu.
Estava cansada de tudo. Estava desesperada de tanta frustração.
Estava mas não seria por muito tempo:
- Decidiu que mudaria os seus critérios de escolha.
Antes um homem banal que homem nenhum.
Ficou mais serena e sem alegrias, para já.
Sabia que gostava de fado.
- A sua vida toda pensara que não...
Mas era só aquela ideia feita, que não era, sua ideia intrínseca.
Tal como em muitas outras coisas por que tinha paixão, sentia verdadeira paixão pelo Fado! Sentia.
- Tudo o que envolve Alma e Sentimento tem para ela paixão associada.
Nunca desistiu de ouvir fado, ainda que às escondidas - não fossem as amigas denegrir os seus gostos, fora do género musical do grupo.
E, tal como com toda a coisa que é objecto da sua paixão, naquele dia comprou o seu primeiro CD de fado:
- Amália era a voz desse CD.
Seu nome era mágico; sua voz era mágica; sua figura arrebatadora.
Por Amália tem paixão ao Fado.
Tem paixão e gostos variados, por diversos géneros de fado.
Esta música faz parte de uma lista extensa de músicas da minha preferência.
É uma música que fala de amor não correspondido. Fala de alguém que não está na nossa onda e de quem nos cansamos de esperar.
Os Dire Straits são uma Banda musical da minha eleição. Gosto de quase tudo o que tocam e adoro a voz do seu vocalista - Mark Knopfler
Nunca estão "demasiado longe para mim".
Parou o carro, ali em frente ao mar, desligou o rádio para poder pensar, em silêncio.
- O mar e o silêncio arrasaram-lhe o seu corpo e o seu sentir...
Começou a imaginar-se, do tamanho de um grão de areia e compreendeu, quão pouco importante era, para que alguém sentisse a sua falta, caso não existisse. Sentiu-se frágil e angustiada.
Saiu do carro e sentiu o cheiro a maresia a inundar-lhe os sentidos todos!
Agradeceu aos céus por poder estar ali; por saber-se útil a algumas pessoas; por gostar da Humanidade em geral.
Foi então correr um pouco, pela praia deserta, e, já cansada e de Alma leve, pensou com ironia:
- Se Deus quisesse que o Homem corresse tinha-lhe dado quatro patas!
E assim concluíu que detestava correr.
Correr é para os cavalos livres, rematou - encaminhando-se, devagar, em direcção ao carro...
Uma música para o fim de dia.
Uma grande música dos anos oitenta, julgo eu...
Há cinco anos que não sabia fazer mais nada!
- Levantava-se e deitava-se, sempre e só, com um único objectivo: viver para viver, a sua paixão absoluta, julgava ela, por aquele homem a quem dava o seu tempo, todo...
Começava a questionar-se sobre o fim e utilidade de tal paixão!
E desta forma simples decidiu que já estava apaixonada, há tempo demasiado, por alguém a quem via, já, alguns defeitos.
Concluiu que seria muito mais útil se se dedicasse a coisas mais convincentes.
Nesse dia telefonou a informar-se sobre uma pós-graduação.
Queria ter a sua cabeça ocupada. Queria muita coisa que a paixão lhe não dera
Reparou que já raciocinava como se a sua paixão tivesse acabado!...
E, acabara mesmo.
Bastou-lhe parar para se pensar e viu o fim da sua paixão.
Os restos da sua paixão.
Só restos de paixão.
A música dos Beatles é já considerada "clássica".
Eu gosto muito de quase todas as canções desta famosa e planetária banda musical.
A música é assim mesmo:
- Uma linguagem universal. Acessível a todos. Assimilada por todos.
Amo os Beatles, e, este vídeo é, também ele, muito bonito.
Um momento, perfeito, a não rejeitar, este que aqui vos deixo.
Enjoy!
Não era pessoa de lágrima fácil...
- Era sensível mas não "chorona".
Naquele dia, porém, chorou, horas e horas a fio. Bastou-lhe cruzar-se, na rua, com a pessoa que lhe infernizara, durante anos, a sua vida!
Recordou tudo, até o amor desenfreado que lhe teve.
E as lágrimas, uma a uma, marcaram presença nos seus olhos, doidos de amor e solidão, e, toda a tarde permaneceram ali, sem lhe darem tréguas.
Mas, porque tudo tem um fim, de repente, as malditas lágrimas secaram.
Um sol intenso brilhou no céu.
Um sorriso lindo pairou no seu belo rosto e, pensou:
- A vida é o que é:- Sol, lágrimas e sorrisos.
Respirou, então, fundo e cheia de alívio!
Ainda era, tão só, de carne e osso.
Que bom!
Entreabriu a janela do seu escritório, acendeu um cigarro, e, ficou-se ali, puxando fumaças e pensando na Vida.
Para não variar pensou naquilo que, quase sempre, pensava:
- Pensou nas suas paixões, todas - antigas, recentes, e, presentes!
Era, foi e será, uma mulher de paixões.
Não se arrependia de nada, do tudo, o que viveu por paixão.
- Os sobressaltos; os arrebatamentos; o prazer; o desejo; o sexo; a desilusão do sexo; as controversas etapas dos vários fins das várias paixões.
Concluía sempre o mesmo:
- Uma mulher de paixões tem muito que contar.
É isso a memória. A história das nossas paixões.
O cigarro acabou-se e a evasão com ele.
Voltou ao trabalho.
E porque eu amo o som do silêncio, partilho com os visitantes deste meu blog, esta música.
É no meio do silêncio que, na maior parte das vezes, eu encontro as melhores respostas para as minhas dúvidas - imensas e constantes.
A música nunca me perturba o silêncio.
- A música acrescenta-me o silêncio; torna-o mais intenso. Mais denso e cerrado.
PS.
Desejo que usufruam, com esta música, um bom momento de evasão pelo silêncio.
Bom dia de sábado para todos os que aqui "passarem".
No bulício dos dias não há paz suficiente para o discernimento.
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