RELÓGIO! DEUS SINISTRO, ASSUSTADOR, IMPÁVIDO,
CUJO DEDO AMEAÇA E NOS DIZ: « NÃO TE ESQUEÇAS!»
... ( Baudelaire - in As Flores do Mal)
...
- Nada nos pode transtornar mais a cabeça, do que querermos fazer certas coisas, essenciais, e não o conseguirmos!
Rita queria dormir! Uma noite inteira e de sono revigorante. Mas o sono não vem e Rita aproveita esse tempo para não se entregar ao desconforto da insónia. Aproveita para se «distrair»!
Lá fora a noite, o silêncio a calma. Aqui dentro Rita, o seu pensamento que voa, e a vontade de que as horas se esgotem e a madrugada chegue e aconteça.
Hoje será um dia como outros: tantos,... iguais e cansativos.
Talvez por agora, Rita não queira, sequer, escrever no seu «Diário» aquilo que lhe povoa a cabeça e não a deixa dormir... Mas tenta, ainda assim...
Sente-se emersa numa nuvem de água que não a deixa escapar dali, seja para onde for...que a aprisiona... Assim como se fechada num tanque, onde não se afoga, mas também, onde não está seca nem livre; onde nem sequer consegue ângulo para de lá sair... Por demasiado justo, rugoso e oprimente.
- Um tanque onde Rita caiu por descuido e que de tão fundo, rugoso e estreito que é, Rita está nele prisioneira, até que a puxem de lá para cima... libertando-a, (por qualquer acto de generosidade espontânea) dessa prisão tão castradora e claustrofóbica.
Sim, qualquer um que passe, pode não reparar que Rita está ali prisioneira; de um metro e setenta de água; contida numas paredes rugosas, demasiado estreitas para a sua medida e em cimento e pedras... Uma verdadeira armadilha! Uma prisão...
Quando Rita tem noites assim...destas, Rita prefere que o dia chegue rápido; o seu pesadelo termina com o voo do primeiro pássaro que lhe cante na janela...
...
Continua
Insónia
Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!
Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
(continuação)
...
Se Rita fosse fatalista, acreditava em bruxas; deixava as ciganas lerem-lhe a sina, na palma da mão, e, nas sextas-feiras, dia treze, tomava soníferos potentes e ficava na cama; a dormir o dia todo... e, ainda assim, com medo de que o tecto do quarto lhe caísse em cima da cabeça... e a “passasse a ferro”!
Mas Rita não é fatalista, não é depressiva, não é derrotista e não é crente.
- Portanto, aquilo em que Rita acredita, mesmo, é na probabilidade de lhe acontecerem coisas boas, e menos boas, e más. Rita acredita, no desgaste físico, na perda de resistências e na imunodeficiência! A pessoa vai perdendo defesas e, um dia, um vírus maldoso ou outro “bicharoco” oportunista, sem darmos por ele, entra-nos no circuito interno e destrói-o. Ficamos indefesos perante a sua agressividade destruidora.
Hoje Rita está doente! Assim, sem contar, Rita apareceu com “zona”... uma coisa terrível e que dá um mau estar profundo.
O «Herpes Zoster», (é esse o nome exacto ao que vulgarmente chamam “zona”) é um vírus que, quando se aloja num indivíduo, alguma vez, por lá fica e permanece, e ataca-o quando menos ele espera... Não há ainda, nenhuma medicina, que extermine um vírus: radical e definitivamente!
Rita já esteve muito mal com Herpes Zoster. Nessa altura, atacou-a na zona do nervo trigémeo, (ouvido, olho, cérebro) e Rita esteve seis meses, completamente fora de cena. K.O! Não tinha forças nem para levar uma colher à boca e, o seu aspecto, era repugnante. Tinha a cara e a cabeça, toda em ferida...em chaga, e era muito mau e muito doloroso. E estava prostrada; dias inteiros; sem forças!
Os médicos que nessa altura a trataram, (dermatologista, neurologista e oftalmologista) dizem que Rita será talvez, o único caso no mundo, que conhecem, que conseguiu vencer, com sucesso, aquele quadro clínico tão extremo e agressivo: sem paralisias faciais e sem lesões neurológicas! Mas Rita superou-o e superou-se e ao fim de uns nove, dez meses, já fazia a sua vida (quase) normal... E, entretanto passaram vinte anos!
Ontem, e sem contar e noutro sitio do seu corpo, (felizmente ainda assim) o Herpes Zoster voltou. Dá dores horríveis e parece que essa zona está a ser queimada...permanentemente, com um ferro em brasa. Deve-se o facto a que o vírus se aloja no nervo... Daí as dores e essa sensação...
Rita não desanima nem atira com a toalha ao chão. Até porque e até agora, o seu mau estar, embora sendo bastante, não é tão elevado como da vez anterior...
Rita vai tentar que esta situação se resolva; e só espera que tudo termine breve e em bem. Nada de dramas, nem desesperos...
Rita não acredita no destino, nem em fatalidades; mas de facto, de vez em quando, Rita “atrai” o azar. Lá isso atrai mesmo!
Talvez até nem existam bruxas, mas devem existir bruxedos! Devem, devem...
- E logo agora que Rita está para ir de férias!...
...
Continua
« THE BOHEMIAN GIRL...»
http://www.youtube.com/watch?v=dbRYEvZVoag
UM MOMENTO MUITO ESPECIAL - OUVIR J. NORMAN...
UMA VOZ FABULOSA, UMA PRESENÇA IMPONENTE, UM TALENTO SUPERIOR.
TIVE O PRAZER DE A OUVIR, AO VIVO, EM LONDRES, NOS IDOS ANOS NOVENTA!
- INOLVIDÁVEL.
Embora bastante apressada, aqui deixo este endereço, para que clicando, (quem ainda não leu) fiquem a par desta notícia.
Eu até acho que, será verdadeira... A autenticidade e o bom aspecto, são duas coisas difíceis de comprar. Ou se têm ou não se têm!
Seria interessante, já agora, fazerem o mesmo com outras figuras públicas, que parecem marionetas ou autómatos...
Cilcar, pf.
http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1018812.html
(continuação)
...
Rita não gosta de fazer malas quando vai de férias! Detesta andar pelos aeroportos, e entre trajectos, a arrastar uma infinidade de tralhas, que, só lhe criam desconforto, peso e despesa. Por isso, desde há muitos anos, quando Rita viaja, leva sempre e só, o mínimo e o indispensável... e, se for necessário, por lá, por onde andar, faz compras. Quando regressa a casa, Rita quase sempre traz mais, do que aquilo que levou. - Ou não! Já aconteceu, Rita dar as suas coisas e voltar com quase nada, dentro dos seus sacos... Mas isso foi por outros motivos e deu-lhe muita alegria!
Quase a cortar com as rotinas e tarefas diárias... Rita elabora, numa folha de papel, (enquanto está sentada num café, onde aguarda o seu namorado) uma lista exaustiva de coisas que terá de levar e usar quando partir em férias...
- Rita irá de férias e terá que “programar” as malas com roupas para frio, lá dentro!
Não é uma ideia muito apetecível, dita assim, num dia em que temos temperaturas amenas e o sol brilha por todo o sítio... e a maioria das pessoas gosta e aprecia isso...
Mas Rita, adora o frio e as paisagens fustigadas pelas temperaturas baixas, os nevões e as invernias... - Quase a implorarem a atenção e presença de humanos! Do seu calor e do seu carinho!
Ninguém é assim e ninguém gosta de frio! Mas Rita gosta! Rita não pretende ser excêntrica! Diz a verdade quando afirma preferir o frio seco, e as paisagens de Outono e de Inverno e de Primavera... (por esta ordem)...
- O Verão deixa-o para o fim, na sua lista de preferências. Do Verão ama-lhe a luz, os dias grandes... e pouco mais. - Ama-lhe também a pouca roupa que exige, mas não chega, ainda assim, para viajar para sítios de calor...
Mas Rita vai para o frio, e, por isso, terá de organizar uma lista com camisolas quentes, casacos quentes, sapatos quentes e tudo o mais - nesse género e texturas. Gostos são gostos! - Rita gosta do frio, das roupas quentes e do Outono; de uma lareira, de um vinho tinto, de castanhas assadas... de exposições, de monumentos, dos teatros e de sair à noite... Tudo isso em férias e num país onde já esteja frio... No Outono do seu contentamento!
Mas as malas atafulhadas de roupas quentes e grossas são uma cruz, demasiado pesada, e que Rita não gosta de carregar e se dispensava, até, de carregar... Mas...é inevitável.
- Enfim, todo o prazer acaba sempre por ter a sua dose, (pequena ou grande) de sofrimento: antes, durante, ou depois!
Ir para férias é um enorme prazer... Fazer e carregar as malas é uma seca...
...
Continua
«FADO TONINHO»
http://www.youtube.com/watch?v=jq1j-Dq11WQ
ORA AQUI ESTÁ UMA LETRA QUE É UMA BOA SINTESE DE NÓS...
- SÓ GARGANTA!
MERECE SER MUITO BEM ESCUTADA.
OS DEOLINDA SÃO UMA BANDA DE FADO CASTIÇO E INTELIGENTE, QUE DÁ GOSTO OUVIR.
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar –
Balouça à beira de um poço,
Bem difícil de montar...
- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia,
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
Cá por mim não mudo a corda
Seria grande estopada...
Se o petiz morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...
- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
( Mário de Sá Carneiro - Paris - Outubro 1915)
(continuação)
...
Rita está em casa. Está preguiçando e lendo e pensando... e, deixando o tempo fluir. Rita decidiu não fazer nada!
- Rita gosta deste doce remanso; e hoje não tem vontade de mais nada que não seja isso; e já é muito e é muito bom.
Rita gosta do tempo grande. Aquele tempo que lhe dá para fazer tudo e de que ainda lhe sobra, algum, para não fazer nada. Rita aprecia não fazer nada de nada...
- Olhar, pensar e não fazer nada! Esbanjar tempo! Ser perdulária de tempo.
Rita gosta dos dias enevoados e que convidam ao sofá; no seu canto preferido, na sua sala, onde está o seu sofá predilecto... castanho-escuro e com almofadas verdes; em vários tons e muito macias, para Rita se aninhar nelas, e preguiçar muito e com muito conforto...
- Preguiça sem conforto, não é preguiça!
Por hoje, Rita não fará mais nada que não seja, esta preguiçosa, deliciosa e ociosa vida; sem tempo e no seu sofá.
E já lhe chega! Para variar, já lhe basta; é muito e é muito bom. Um dia de plena entrega ao ócio! O seu “elogio da preguiça”!
Raramente Rita pode fazer um programa destes! De pleno e total usufruto do lazer. Sem horas, nem tarefas adiadas. Sem premências frustradas.
- E é tão bom, tão bom, tão espectacularmente bom que Rita, até tem receio de se habituar!
Ps: Lá mais para diante, talvez Rita dormite, um pouquinho e, se tal acontecer, será a plenitude do seu programa de sofá...)
...
Continua
«Sign your name... (T.T. Darby)»
http://www.youtube.com/watch?v=kWblYS1gDOQ
Este menino, que em 1987 cantava este êxito assim, e que até hoje se vai ouvindo - embora nas rádios e discotecas mais desadequadas ao pessoal mais jovem - satisfaz bastante as minhas preferências musicais...
Eu gosto do seu tom de voz. Com esta canção, ele tráz-me, boas e românticas recordações.
- E "recordar também é viver"; pois que só recorda, quem viveu... E quem viveu muito, tem muito para recordar.
(continuação)
...
- Como assim?... Podes repetir, por favor, essa “piada”abusiva, e de mau gosto, com que pretendes insultar-me, mais uma vez?
Hoje estou disponível para te ouvir! Hoje, mesmo que, reiteradamente, me ofendas, serei atenta, disponível e interessada!
- Para que não te desiludas ou desistas de o fazer, serei, só ouvidos, para ti e para te ouvir...
Hoje como excepção, podes falar do que quiseres e parar aonde quiseres, e, como de costume, repisar as ideias, com que me queres magoar e ofender, quantas vezes necessitares, também.
A tudo, hoje, excepcionalmente, prestarei muita, muita atenção...
- Toda a atenção que consiga reunir, será para ti, nesse momento.
Depois, quando terminares - porque quiseste ou porque tudo já foi dito - darei meia volta, e, sem uma palavra, um gesto, uma ideia expressa ou uma recriminação implícita, dir-te-ei adeus; em silêncio e para sempre... Estás avisado e bem sabes que assim o farei.
- Podes então agora, por favor repetir o que insinuaste e que te é tão caro e obsessivo; te anima o ego e te alimenta os sentidos?... Podes agora, por favor, repetir esses «palavrões» que me chamaste, entre dentes?!... Quase imperceptivelmente?...
Já agora aproveita bem, esse teu último tempo de glória, comigo... Sê desaforado, carroceiro, malcriado; com boas ou más maneiras, mas não deixes de os repetir...
Essa «piada» de mau gosto carece ser reiterada, para que me dês forças suficientes, para fazer o que acabo de te anunciar e juro - aqui e agora - cumprirei fielmente.
Devias ter percebido há muito, que me não intimidas; os teus julgamentos irracionais e desaforados, serão o alento de que preciso para acabar com as minhas dúvidas sobre ti.
- Hoje, após mais essa cena que irás, sei-o, representar mais uma vez, para mim, deixo-te de vez e para sempre.
( Rita, desta forma seca, dura e brutal, (até para consigo mesma) disse a alguém que considera muito, que não pode continuar abusando dela e da sua generosa paciência, gratuitamente...)
...
Continua
. Primeiras chuvas de Outon...
. Outono!
. Hoje
. O circo
. VIAGEM A PARIS E (DE GRAÇ...
. Diário de Rita... o beijo...